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sábado, 17 de julho de 2010

ADEUS, MEU RIO SÃO FRANCISCO








Causa arrepios a visão de um quadro estarrecedor: bandos de mergulhões e quem-quens catando moluscos no meio do rio com a água mal cobrindo seus pequenos pés. Já não bastavam as imensas coroas e bancos salientes de areia entupindo os canais do rio para tanto nos assustar e criar uma perspectiva tenebrosa quanto ao destino do nosso consagrado rio. Agora, bandos de aves passeiam em suas águas sem molhar as penas. Essa visão nunca, jamais ter diante dos meus olhos acostumados ao namoro diário com o meu rio.
Ano a ano a situação do meu rio fica mais crítica e as perspectivas são as piores, afastando-se a esperança de um reversão a curto prazo se os cerrados ainda continuam sendo devastados, e há a ameaça de se liberar mais e mais desmatamento – do cerrado e da mata seca. Ganha-se por um lado, mas perde-se muito do outro. Na elaboração de leis modificativas de situações já estabelecidas numa região seria aconselhável consultas locais, ouvir as pessoas, trocar de idéias e vivenciar os problemas vividos pelos homens da terra – o que sabe as veredas e as nascentes que vão alimentar o grande rio. No caso das questões hídricas tudo é muito mais sério. Vê-se, de um lado, a situação dos produtores, a necessidade de ampliar as áreas de desmatamento para plantio de lavouras e pastos. No papel é fácil. A realidade é outra. No cerrado são-franciscano, por exemplo, o que se vê é outra situação. Não tem lavoura, nem pastos. Vai restando o deserto quando se tira a cobertura vegetal para alimentar as bocas de fornos das usinas. Ganhou-se um bom dinheiro por uns tempos. E depois? O que sobrou recompensa? Se alguém tem alguma ilusão a respeito, deveria visitar as áreas – imensas áreas devastadas – no distrito de Santa Izabel de Minas. Dezenas de veredas morrendo, muitas totalmente extintas. Vá percorrer o Vieira e o Acari e depois dê uma chegada no areal em que vai se transformando o Rio Pardo. Ali está o retrato de uma situação – a devastação do cerrado.
O Rio São Francisco é o retrato mais próximo e visível da situação. Longe daqui técnicos do governo ainda imaginam coisas espetaculares – transposição e hidrovia. No caso da primeira a cada dia vai ficando mais complicado, pois a água está diminuindo, diminuindo. No caso do segundo é possível uma transposição - de hidrovia para rodovia. É só esperar.
Vou lembrar aqui o final de uma crônica que faz parte do meu livro (neste Blog) “Do Cerrado às Barrancas do Rio São Francisco, com o título o rio São Francisco seca:
“Muito mais triste e pior será, se nada for feito para salvar o cerrado e sua gente. É factível de se imaginar, melancolicamente, se isso acontecer – ou deixar de acontecer o socorro – que alguém diante da calha do rio, de um topo qualquer, possa dizer com saudade a um jovem: - meu filho, este imenso trilho de areia que suas vistas hoje contemplam, outrora foi um majestoso rio, o mais importante do Brasil, o então falado rio da unidade nacional.”


Registro fotográfico da situação do Rio São Francisco no mês de julho de 2010, quando da reportagem feita pela Inter-TV.

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2 comentários:

  1. Analisando o caos socialmente vai trazer problemas não dimensionados, visto que a água é fonte de vida, é a maior riqueza das cidades ribeirinha: PEDRAS DE MARIA DA CRUZ; JANUÁRIA; SÃO ROMÃO, etc.
    O que intriga é que sabemos o que precisa ser feito, lógico que requer investimentos em R$$$, porém o governo vai esperar o problema aumentar para depois tomar providências. Como imaginar a cidade de São Francisco sem o velho chico? os valores dos imóveis irão a ruína, das terras, tudo será desvalorizado. Não queria acreditar, mas parece que a carta de 2070 chegou no ano 2010.
    ADÃO RAPAFERRO

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  2. Adão, a sua preocupação é sentida por todos nós. Sem dúvida, o governo precisa olhar o rio São Francisco como um patrimônio nacional e ter maior respeito para com os ribeirinhos. A nossa vida, de fato, está ameaçada. Obrigado pelo comentário e espalhe a ideia. Devemos unir nossas forças em defesa do nosso Velho Chico.

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