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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

RIO SÃO FRANCISCO DE 4 DE OUTUBRO DE 1501 A 2010

O amor é imenso. É uma ligação tão antiga, tão remota. São Francisco, a cidade, nasceu e se fez tão bela, por causa do rio que a abraça e lhe dá o mais belo pôr-do sol do Vale. Motivos para festejar o 509º aniversário do descobrimento do rio.
Um americano criticou os brancos que queriam comprar suas terras dizendo que eles não tinham respeito por ela que era sua mãe, que cospiam nela. O que fazem os homens com o rio, hoje - e ao longo de uns anos para cá -é pior, jogam suas sobras nele.
Neste ano, mais uma vez o rio está esverdeado. Perdeu sua cor cristalina, quase azul suave. O grosso lodo vem chegando e, depois dele, o mau cheiro...Faltou chuva. Faltaram as águas. Tomado por bancos de areia, a pouca água serpenteia gargantas secas.
A morte ronda o rio e, com ele e por ele a vida barranqueira. Um vídeo nos chegou pela internet mostrando a descarga fétida de grosso e negro esgoto no rio, a montante da nossa São Francisco. Um crime descarado (no site www.youtube.com, digitar Contaminação Rio São Francisco).
Ainda assim, caro rio, nosso amado rio, ainda rendemos-lhe o nosso tributo.
E vamos lutar por você, sempre.




Tributo ao Rio São Francisco

Meu Rio São Francisco,
Rio do santinho irmão das águas,
Do sol, da lua, das flores e dos humildes.
Santinho dos barranqueiros
Bem que me lembro de suas águas claras
Trazendo saudades da Zagaia
Lá dos píncaros da Canastra
E lembranças do cerrado
Das águas brotadas na locas de buritis
Nas veredas belas como o Éden
Com jeito do dedo de Deus passado.
Lembro-me de suas águas claras e mansas
Correndo na sombra de matas fechadas
A lamber com doçura o capim braço-duro
Que forrava e segurava o barranco
E ficava a assuntar as galhas da ingazeira
Agitadas com suavidade cantando na manhã.
Levantado o irmão sol
Elas refletiam as flores vermelhas do pajeú.
Eu bem me lembro de suas águas claras
Apinhadas de ariscas piabinhas
Beliscadeiras dos pés das lavadeiras
Que nas pedras lisas batiam roupa e contavam causos.
E a espuma branca beijando as praias
Banhando os pés de melancia da coroa
De onde saía o doce fruto desejo do mestre Saul.
Meu rio São Francisco
Berço da Iara bela de olhos e cabelos verdes
Reino do surubim de cabelo, guardião do palácio encantado
Rio que esconde nos esconsos profundos
O caboclo d´água, compadre dos pescadores.
Lembro-me do rio das águas fartas e profundas
Por onde deslizavam as barcaças
Levando fincada na proa o mistério
A garantia da boa viagem – a carranca.
Rio caminho dos belos vapores
Apitando saudades em cada porto.

Rio São Francisco caminho da nossa vida
Por ele nasceu nossa civilização.
Que nele cresceu e ainda vive
Rio São Francisco onde deita nossa alma
Assim como inspirado cantou o mestre Saul.
Lendas, mitos, histórias, vida vivida
O nosso São Francisco. A nossa vida



Hoje, querido rio,
O que fizeram com seu corpo?
O que fizeram com suas águas?
Você agoniza, a gente sente.
As águas claras, mansas e doces
Foram cobertas de espesso verde.
Não que seja feio o verde,
Mas não este verde que cobre seu leito:
Grosso como uma gosma
Fétido como carniça intolerável.
Nauseabundo cheiro da morte
Que inunda os lares barranqueiros.
Morte aos peixes! Decretaram.
E os peixes morreram aos milhares
Surubins erados de tamanho descomunal
Só vistos nas outroras em grandes pescarias.
Foram retirados de suas cavernas para morrer.
Dourados, sem brilho, boiando na água negra,
Curimatã e até mesmo o pacomã.
A morte corre em suas águas
Silenciosa e feia, onde tudo era vida e belo.



Noraldino Lima, Manoel Ambrósio, Elísio Horbilon
De onde estejam, olhando rio, acudam-nos.
Como cantar o Rio e o barranqueiro?
Qual história nos resta?
Saul Martins, Domingos Diniz, Ivo das Chagas,
Mestre Minervino, estamos emudecidos.
Não se canta o lundu nem dança o quatro
O Rio Abaixo desafinou.
A morte nos surpreende.

São Francisco, querido São Francisco
Rio do Santinho das águas.
O que podemos lhe dar no seu aniversário?
- Ironia, rio, falar em aniversário
Se o descobrindo o homem escreveu seu epitáfio.
O que podemos passar às futuras gerações?
E tem mais ironia, Rio. E que ironia:
E ainda assim, com tanto desprezo,
Querem levar a lama negra, o lodo verde,
A fétida água que resta, para o Nordeste.
Aos pobres irmãos nordestinos esta herança.



Hoje, o barranqueiro não pode pôr a mão em suas águas.
Não pode, ao modo antigo, tomar água no cucuruco do chapéu
Ou na concha das mãos
Se o fizer, é advertido: pode adoecer ou morrer.
Diz o governo que sua água natural é imprópria para consumir
Até para os bichos, Rio. Até para eles.
Meu rio, imagina só:
O barranqueiro só pode tomar sua água se tratada.
Então você está mesmo doente e só dão o atestado.
Nós lamentamos e choramos.

Onde temos nossa alma
Vamos consumir o nosso corpo.
Vamos buscar longe Castro Alves para evocar de novo:
Deus, ó Deus, onde estais que não nos acode e salva
Nós morremos. Nosso rio morre
E os homens senhores de hoje vergateam nossa alma
Mudos se fazem. Nada vêem.
Rio São Francisco, perdão
E uma lágrima rola, vinda da alma,
Você não merece tanto desprezo
Porque tanto nos dá – a vida.

04.10.2007




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Um comentário:

  1. att João naves, mova-se e delegue funções para que haja limpeza, manutenção e conservação da Praia, Sabemos que está a seu alcance pois és o presidente do CODEMA
    Fui a praia no ultimo domingo e é revoltante a quantidade de lixo no local, os barraqueiros eos banhistas não fazem a limpeza e jogam o lixo em local inadequado. Há tanto lixo que é necessário realizar um mutirão de limpeza no local.
    grato!

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