Postagens populares

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Adeus, Pajeú


O tempo chega para todos nós viventes. Tudo tem o seu tempo, ou há tempo para tudo, como ensinou São Paulo. Pois é, companheiro Pajeú, velho guardião do nosso mais do que amado Rio São Francisco. Ali, fincado no penedo, onde começou a história de nossa terra, você esteve em vigília por tantos anos. Ficou ali plantado, bem próximo das lisas e negras pedras onde chegava, em noites de lua cheia, e tomava assento, a bela Iara de cabelos verdes para cantar e encantar os guerreiros xacriabás, primeiros habitantes desta terra. Quantas vezes estive ao seu lado, admirando a sua permanência com a copa virada para as águas mansas, quase sempre, do nosso rio, pondo assunto, bem sobre a caverna do surubim de cabelo, quem sabe seu companheiro de história. Noutras eras você sentiu as águas bravas e barrentas do nosso rio banhando suas raízes firmemente encravadas nas rochas. Você e o rio tinham uma combinação, pois ele deixou você ali plantado anos após anos. Ali no penedo onde os índios botavam vigia para descobrir os cardumes de graúdos peixes, nos primórdios, quando fartura havia sem presença de tantos pescadores. Quantas vezes fiquei ali por perto, observando e admirando como você se agarrava às pedras, buscando terra bem no fundo das frestas para se manter firme e vivo, atravessando os anos. Fazendo sol ou chuva e você sempre ali soltando, uma vez por ano, as belas flores vermelhas. Vi meninos de escolas da cidade, em azáfama atividade, plantando mangueiras do lado de cima, onde terra farta havia. A alegria durava meio dia. Depois, os meninos voltavam às escolas e lá ficavam as mangueiras em terra fértil. Nenhuma delas resistiu e você, plantado no rochedo permanecia verde, vigiando o rio.
Um certo dia, eis que volto ao seu pouso para mais fotografias do meu rio fazer, sorvendo suas cores, sua placidez, e o mistério que ele tem em me cativar, como a todos barranqueiros. E o que vejo, meu Deus: você sem suas verdes folhas. O que foi isto, caro Pajeú? Então, assim de repente você resolve deixar o seu rio? Resolve nos deixar? Como vai ficar aquela paisagem sem a sua fragilidade\fortaleza? Sim, de aparência pequena, miúda, se lembrados os altaneiros angicos que no século passado ou mais que passado, forravam aquele sítio, daí ser a vila primeira Pedras dos Angicos. E bem que poderia ser, depois, Pedras dos Pajeús. Vi, com tristeza seus galhos nus, estendidos ao céu. Agradecia ao Pai por sua existência companheira do rio? Sem as folhas que os forravam não podia mais namorar as águas do rio, refletir nela o seu ficar para que elas levassem para o mar as suas lembranças. Só os galhos secos. Só. Daqui mais tempo nem mesmo o tronco restará.
Tenho um consolo, amigo Pajeú – bem ao lado do seu tronco, coisinha de nada desponta em folhas querendo subir. Seria seu filhote? Tomara que seja, pois assim, parte sua continuará na vigília do nosso rio.
Assim, vamos continuar, em pouco tempo, com o nosso Pajeú e o rio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário