Postagens populares

sábado, 16 de janeiro de 2010

CHORA O RIO SÃO FRANCISCO, CHORAM AS FLORES DO CERRADO

A manhã do dia 11 de dezembro ficou triste nas barrancas do São Francisco, uma nuvem de tristeza cobriu o cerrado ofuscando o brilho e a beleza da ciganinha – morreu Saul Alves Martins. Na verdade, é melhor dizer que ele se ausentara fisicamente do nosso meio, mas jamais poderemos dizer que ele morreu, pois seu legado é de força vivificante. Ele cantou em prosa e versos, e com a alma, o Rio São Francisco – que barranqueiro apaixonado foi ele, filho de Januária, filho do Vale todo. Reuniu, em vida, múltiplas facetas do povo barranqueiro e dos gerais, retratados em seus maravilhosos livros – poesias, contos, mitos e lendas, artesanato, de tudo que fosse coisa nossa. Foi historiador, escrevendo a saga de Antônio Dó, o que levou muito tempo de pesquisas e de mergulhos em nosso sertão e, assim, registrando uma fase de nossa própria história.
Fundador da Comissão Mineira de Folclore, da qual foi presidente por muitos anos, ele consolidou aquela instituição com seu trabalho, seu idealismo e vasta cultura, doando para ela o seu rico acervo cultural.
Pertenceu aos quadros da Polícia Militar de Minas Gerais, tendo chegado ao posto de Coronel. E foi, ao mesmo tempo educador, sendo presidente das Escolas Caio Martins, onde deixou um imenso ciclo de amizade, ele e sua esposa dona Julinda, pela maneira cordial, amiga e respeitosa com que se relacionava com servidores e alunos. Também para as Escolas Caio Martins ele deixou um grande legado: é o autor da letra do hino que os alunos cantam, quase todos os dias com tanto garbo e orgulho – “Se da Pátria os anseios ouvis, se quereis uma infância feliz...” E como ele fez tantas crianças felizes. As suas visitas às unidades das escolas se transformavam em festa, porque ele cativava os alunos nas reuniões de grêmio contando histórias do nosso sertão, retratando a alma do nosso povo. Nas escolas ele era chamado carinhosamente de coronel Saul, muito mais para um pai que para um militar.
Pois, Saul nos ensinou tanta coisa e uma delas, que tanto me orgulho, foi o amor pelo folclore. Com ele aprendi e comecei pesquisar e assim cheguei à Comissão Mineira de Folclore. Melhor mesmo é que ganhei o mais gosto ainda pela alma do povo do sertão e pelas belezas que guardam nossos gerais. E isto me levou a escrever sempre, aprofundando em um conhecimento que é universal – das origens do ser na manifestação de sua alma em estado virginal.
Saul nos ensinou mais. Olhando o rio São Francisco, a sua grande paixão – ele ensinava: “o barranqueiro tem a alma no rio”. Tão verdadeira assertiva, pode garantir o pescador, o vazanteiro ou aquele que tão-somente vai à orla apreciar o pôr-do-sol de cada dia. Ali, então, naquele momento mágico em que se aproxima de Deus, o barranqueiro deposita sua alma no rio.
Vai que numa bela tarde de pôr-do-sol ou fresca manhã, nossa alma possa se misturar às águas do rio e, lá, se encontrar com Saul Martins.
Do amigo, João Naves
.

.

.

.

.

.

.

3 comentários:

  1. Antes mesmo de aprender o Hino Nacional, ou mesmo o Hino do Glorioso Galo, eu já entoava: "Se da Pátria os anceios ouvis...". Grande Saul Martins, de belas letras e muita, muita dignidade, coisa rara neste País de planos mirabolantes (e ele contou em prosa as desventura daquele que lhe confiscou a poupança) e pitorescos governantes. Que misturadas às águas do Velho Chico, a sua alma nunca escorra pelos ralos de sua malfadada transposição. Merecida a bela homenagem que lhe foi prestada. (a) Ricardo Leal de Melo.

    ResponderExcluir
  2. Tive o privilégio de ser seu ouvinte de muitos contos, poesias e estórias sobre políticas debaixo do pé de umbú em frente ao Lar do Sr Vicente ou Lar da Meninas,"Caio Martins" na década de 60.Um coronel de alma doce e fina educação.Linda esta homenagem como as outras que lhe foi prestada em vida por você mesmo, através de uma página "DE JOVERÍ PARA TÌ", ou mesmo ao vivo pelas suas eloquentes palavras.Sou testemunho. Roberto Rodrigues

    ResponderExcluir
  3. exuberante homenagem a esse grande homem..

    ResponderExcluir