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terça-feira, 22 de maio de 2012

DE TANTO AMAR O RIO SÃO FRANCISCO

1. A torre

Domingos do Prado deixa o barco no rio São Francisco, Galga empinado penedo forrado de angicos E no alto finca o sinal da cristandade – a cruz! Então, desde os tempos imemoriais, ela vigia o rio. Nos tempos mais modernos do chão ao mais alto, Ela ganhou o cume da torre da imponente igreja Sinal visível de nossa terra nos dois pontais.
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... 2. Os angicos

Domingos do Prado aqui fincando sinal primeiro, A civilização que nascia, escolheu um nome E o primeiro foi, em razão do penedo, Pedras de Cima. Logo depois o lugar foi batizado de Pedras dos Angicos, Tamanha a profusão da bela e altaneira árvore. E ainda hoje ela teima em se espalhar pelas barrancas Vigiando como sempre fez, o nosso São Francisco.
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... 3. Quixabeira
Ainda viajando na busca dos tempos passados, Os olhos do caminheiro contemplam um tronco secular: É a velha quixabeira de lágrimas indígenas molhada. Quixabeira, índias e guerreiros uma bela história de amor, Nascida no canto melífluo e envolvente da Iara Que em noites de lua cheia no rio estendida como prata, Guerreiros levava para o fundo do palácio encantado.
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... 4. As flores
É de se ver no caminhar extasiado pelos caminhos-barranco Como se esparramam flores na relva que desce às águas Ou que cobrem em singeleza um tapete de fundo verde Nas lagoas formadas pelas mãos dos homens São puras flores roxas que nos remetem aos versos De Catulo da Paixão Cearense na lembrança de Jesus: “Por que nasceu roxa a flor do maracujá” – é amor e paixão.
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... 5. Mais flores
Muitas flores vê-se no correr do ano, no seu modo de vir Caraibinha branca, pajeú, periquiteira, canafístula... No caminhar do mês de maio, uma antecipação: Flores de mangueira e moldurando o retrato do rio. É a riqueza do sertão – flores e frutos para o homem Os olhos se encantam sempre e levam paz ao coração.
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... 6. A canoa
No barranco aportada, à sombra de angicos e pajeús, Descansa uma canoa, lida do pescador em noite de peleja Uma sensação de paz imensa, gostosa, no balançar suave; Mais ainda os beijos das marolas feitas da brisa da manhã Só de olhar a cena, o descanso toma conta do espírito Que se revigora para mais uma jornada de trabalho no dia.
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... 7. Na trilha
Descendo a trilha do barranco ao molhado do rio, Sinal dos pés, em tempos tantos passados, do pescador, Desvencilhando-se de pedras negras ali espalhadas, No jardim natural de mamonas e algodão manso, Que brotam na mata do barranco por natural de ser Plantas que a natureza cuida de ter e não faltar.
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... 8. O jumentinho
Se lembrado foi Jesus, na flor roxa rasteira, Outra lembrança Dele se tem, mais um pouco do andar Quando os olhos alcançam um jumentinho no descansar Plácido animalzinho, resignado de ser no seu pastar Ele que lembra a peregrinação de Maria e José No caminho do Egito na fuga da ira de Herodes.
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... 9. Ninho dos melros
No mesmo cenário do sossego do jumentinho distraído Forra a lagoa o denso verde das taboas que se abraçam Ali, no depois da madrugada, vê-se a festa dos melros Que se preparam para o vôo matinal, saída do ninho. E assim, o despropósito da água servida quase fétida Se veste de beleza, de graça e de muita música no ar
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... 10. Os pássaros
Rio, barranco, brisa, trilha, e olhares extasiados E uma vida telúrico vai se arranjando aos olhos Ali, um bem-te-vi intrometendo-se com a vida do passante: Bem-te-vi! Viu o quê? Visto é ele se equilibrando no fio. O cabecinha de fogo, escondendo-se nas galhas secas O casalzinho de mimosas aves marrons vigiando o rio.
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... 11. A Família
Antes que mais se levante o sol, esquentando o dia Uma família de anu preto aquece as asas para o vôo matinal Juntam-se com carinho tanto de fazer inveja ao passante. Outros se perdem no namorar, ali tão esquecidos Gostosamente unidos, se esfregando e cantando o amor. Passarada que fazem o belo espetáculo do raiar do dia.
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... 12. Os distraídos
No caminhar pelas barrancas do meu rio, há de tudo ver Ali, uma mulher distraída, perdidas em seus pensamentos, Com os olhos descansados nas águas mansas do rio Não se sabe o que ela pensa, mas o que vê, na vigília É um rio que passa, como passa nossa história, nossa vida E ali por perto, um cachorro procurando caminho...
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... 13. Rua do passado
Saindo do cercado da lagoa, lá para meio da cidade que dorme, Uma velha rua, das mais antigas, espreguiça nas cores da manhã. Em tempos escorridos, foi ela trilha dos pescadores rumo ao rio Na esperança de ter a farta pescaria, em tempos muito piscosos. A pequena rua dorme, nenhum sinal de vida, só sua história. A cidade que chega ao rio porque dele nascida e vivida.
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... 14. Caminheiros
Raios do sol pintam de vermelho a linha do horizonte. A luz. Na trilha o movimento vai se intensificando, os caminheiros. Sorvem eles o doce aroma da brisa da madrugada que vem do rio Se atentos e desligados das coisas comuns do mundo Podem ver a natureza coroando-o de belezas variadas A revoada de maçanicos, riscando o céu azul, uma arte.
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... 15. E mais
Vai passar o caminheiro, com suas passadas apressadas Pela placa em abandono indicando o bar ribeirinho Vai deparar em um galho seco com um gavião na espreita Passar pela solitária sete copas, onde foi dos angicos E vai ver, por fim, e certamente com muita tristeza O lixo que o presenteia o nosso rio. Ele porém vence tudo.
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... 16. Sou feliz
Assim, tenho as mais belas e encantadas manhãs. Tenho a visão serena do meu Rio São Francisco E se me detenho um minuto, ouço a sua doce canção. Tenho as pessoas que passam e abanam a mão e dão um sorriso. Tenho as flores coloridas e perfumadas As aves revoam no meu céu e me cumprimentam do alto
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............... Aí, com o coração pleno de amor, Agradeço a Deus, por tudo.