FOLIA-DE-REIS
João Naves de Melo*
Podem ser encontrados grupos com características diferentes, como observou o pesquisador Wagner Chaves, o que se vê comparado os ternos da margem esquerda do rio São Francisco com os ternos da margem direita, considerando o instrumental usado e até mesmo as músicas e danças. Contudo, o que importa mesmo é a riqueza do folguedo, aqui confessional.
Os ternos já estão na estrada.
Eu pretendia fazer uma homenagem a todos os ternos de folia do nosso município que são muitos, muitos mesmos. Infelizmente, não consegui listar todos eles - ainda. O pesquisador Wagner Chaves que por aqui andou sertões - dias e noites - preparando-se para mestrado e doutorado, conheceu - e listou - cada canto, cada rancho, cada comunidade, de onde partiam foliões em funções. Estudos importantes fizeram, também, Joaci Ornelas centrado em grupos de fol
iões na comunidade de Taboquinha e Paulo Freire, com o folião Adão Barbeiro. Da mesma sorte temos a ONGG Cultuarte que vem realizando importante trabalho com nossos foliões, levando-os a lugares distantes, numa demonstração viva de nossa cultura.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdQaC1wQaL0SqRt4bgroHoygFc0LEElRVzI26t5i2cc2yJAops6f2Bz0oLuIhSXysIKUfrhpUEjU2OzBmld0TMlB6Fyky6I07xkzPkzCNWsxLLgsFYC5xnQrpWMJPaMXgzpOOL1m_ZSk/s320/06.jpg)
Pois é, queria ter todos eles na ponta do lápis (ou do computador), mas a informação não chegou a tempo e os grupos, como os Reis Magos, já saíram em função, na luz da Estrela Guia.
Desfilo alguns nomes históricos, tradicionais e muitos outros ficaram de fora para correção futura: mestre Imperador Lúcio do Quebra, Adão Barbeiro, João Pomba Triste, Olegário, Locha, Marciano, Vicente Quiabo, Irmãos Correa, Henrique Quente, entre muitos foliões que, no correr de anos tantos, têm a função de, a cada ano, levar seu canto e adoração ao Deus Menino, na Lapinha.
Com eles - e por tantos e tantos que não estão nesta lista - mergulho no mundo encantado dos foliões, como se empreendesse uma viagem acompanhando a estrela guia até a humilde manjedoura onde resplandece o Menino Jesus.
E saio, em pensamento voltado no tempo, de menino e adulto, no mesmo espírito, para caminhar com os foliões, na sua trajetória de amor.
As caixas gemiam surdamente, solenes, fazendo fundo para os acordes melífluos das rabecas que inundavam o ar, acompanhadas de graves violões e lépidos volteios das violas. Ao fundo, quase imperceptíveis, o titilar do reco-reco e tampinhas do pandeiro.
“Deus vos salve, casa santa/ onde Deus fez a morada...”
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX_-F-0LBw34O0qKIpv_qlKbm4UeeJerMt4qwbpk9m9m03abkguZG2M-0Te-Hiwtmxyoxf_eRgB4tmwXmrQJg44UUISXi6f4DEfYsPuDjMjXBKnTkdyZV9OOXPTNYlH2IXvNJJaNdCUo0/s400/03.jpg)
Saudação feita, vem o agrado ao dono da casa; uma catira, a dança do quatro - quando os homens revelam sua habilidade motora, trocando de lugares, brandindo instrumentos que passam zunindo rentes às suas cabeças, enquanto desfiam histórias locais, quase sempre de bichos e paixão - ou o lundu, com a picardia e engodo dos casais, sapateando, rodopiando, enquanto cantam cantigas hilariantes e picantes, puxadas por repiques alucinados das caixas e a marcação dengosa das violas, tudo cadenciado com palmas bem fortes. É quando a alma se abre de vez para extravasar toda a alegria da noite/folia.
Um golinho de pinga, uns biscoitos, um naquinho de prosa e lá se despedem os foliões pinicando, marotamente, malemolentes, as violas - apenas acordes perdidos, dolentes e apaixonados. E vão desaparecendo na escuridão em busca de outra manjedoura, pois Jesus nasce em todos os lares.
No relicário da saudade desfilam velhos e tradicionais foliões, entre eles o Imperador Lúcio, empunhando a bandeira que carregou, por mais de trinta anos - até morrer - para cumprir promessa. Vai-se matando saudades, enquanto passam os foliões seguindo a tradição, anos após anos: Locha, sempre tão inventivo e exímio dançador, Adão Barbeiro - o rei da dança do facão e da garrafa -, Pedro-Duro - dos poucos conhecidos com coragem para pinicar o Rio-Abaixo, depois de muita adulação e agrados -, Marciano, Vicente e tantos outros. Carregam na sua jornada a história de um povo.
Dá para ouvir, um pouquinho da sua glosa:
“Gosto de folia / Não é da conta de ninguém / Lá em casa não tem galinha / Na folia eu sei que tem...”
meu mestre,meu amigo,meu pai enfim joão naves,sou feliz de ter convido com senhor,(meu direto em esmeraldas, ano de 84 a 87)sou feliz de ser caiomartiniano,parabens professor e obrigado por tudo.
ResponderExcluirluiz antonio diniz
Saudades professor diretor escritor, Joao Naves
ResponderExcluircomo sempre brilhante
abraço de ex aluno Caio Martins-Esmeraldas
Adilson Rossy